sábado, 9 de outubro de 2010

Hipocrisias do PSD

O Dr. Passos Coelho usa uma imagem forte politicamente, a mensagem da necessidade da mudança e a verdade na politica… É verdade que é necessário mudar o rumo e atitudes dos políticos em Portugal. Se calhar não têm a culpa, e para ganharem votos têm de dizer às pessoas aquilo que estas gostam, mesmo que seja irreal e impraticável. Não existe nos portugueses um verdadeiro sentido de participação e responsabilização cívica. A sociedade age como uma criança mimada, só quer, não se preocupando como é possível satisfazer a todos os grupos sociais e profissionais ao mesmo tempo. E suas pretensões são essencialmente materiais, consequência das sociedades Capitalistas, onde o “Capital “ é o centro de tudo e em função do qual tudo funciona, onde a força motriz é a ganância.

São precisas políticas a longo prazo, mas infelizmente apenas as obras a curto prazo e “visíveis” (por exemplo, estradas e edifícios) é que dão votos, e em quatro em quatro anos existe nova eleição… Se tivemos uma revolução do sistema político, falta-nos uma revolução cultural. Criar uma sociedade com sentido de Estado (para isso é necessário educação, cultura e sentido de cidadania). Criar um sentido de estar social, o sentido que todos os cidadãos, ricos e pobres estão no mesmo “barco” e só todos, sendo solidários e responsáveis, podemos criar um futuro numa sociedade portuguesa no futuro desenvolvida e tendencialmente menos segregada, pois são as diferenças, principalmente as grandes diferenças, entre indivíduos que causam o sentido de injustiça e consequente atrito social.

É verdade que é necessário um pacto social ou contrato social. Existe uma constituição que acredito que é das melhores e mais justas ao nível mundial, contudo não existe na prática na relação entre Estado e Sociedade quais os deveres e direitos de cada uma das partes. O rumo do Estado não pode mudar de 4 em 4 anos. Cabe sim decidir quem está mais apto ou capaz de levar a cabo o rumo traçado pela sociedade, que seria a Constituição. Se temos na história um exemplo, foi o projecto das navegações, que foi um projecto de 50 a 100 anos e graças a este facto existimos hoje em dia como país/nação.

O facto de termos uma maioria de esquerda no parlamento, significa que a maioria dos portugueses que participam na democracia concordam com a Constituição, que tanto incomoda os líderes da “direita”, logo pressuponho que a Constituição representa um rumo de futuro desejado pelos portugueses.

O Dr. Passos Coelho, com muita inteligência, descobriu a “brecha” actual na política actual portuguesa e vai explorar, contudo existem já provas que suas intenções são falsas pelas contradições. Por exemplo diz que nas Scut´s “ou pagam todos ou ninguém paga”, mas na mudança da Constituição propõe que o pagamento na Saúde cada um paga consoante seus rendimentos, afirmando que não é justo… Mas quem tem maiores rendimentos não paga mais impostos? Será de facto que na prática os mais ricos não estarão a pagar mais? E ao mesmo tempo colaboram no financiamento de um sistema de saúde com qualidade para todos? Ou ele pretende que os mais ricos passem a usar as clínicas e hospitais privados e assim esvaziando o financiamento dos serviços de saúde públicos, levando assim à deterioração da qualidade destes serviços? Então a visão da social-democracia, dos sociais-democratas portugueses, é garantir que a qualidade da saúde e educação acabe por ser restrito aos mais ricos? Existe aqui uma contradição histórica ideológica neste partido, renega a ideologia politica que marcou a Europa e a distinguiu no século passado e quer regredir ao tempo na Europa da segregação social que acabou por desencadear tantas revoltas sociais e guerras, será esse o futuro para este país que o Dr. Passos Coelho e o PSD pretendem para Portugal? A saúde e educação são pilares de desenvolvimento das sociedades! Isso é um facto!

Outro sinal, que revela a verdadeira visão de sociedade do PSD, é a alteração constitucional do despedimento… Quem é jovem e está a entrar no mercado de trabalho, sabe bem que na realidade o trabalho estável acabou, para a maioria! É por acaso que floresceram tantas empresas de trabalho temporário? Existem actualmente vários métodos para fazer as pessoas saírem de um determinado posto de trabalho…

O que o país de facto precisa é de “verdade” no trabalho, não concentrar os lucros das empresas em gestores e sempre encaminhar o corte nas despesas nos que trabalham. Um barco começa a meter água e a solução é mandar os mais fracos para o mar? Se calhar o barco vai demorar a afundar, mas o afundamento será inevitável! Não será melhor todos sacrificarmos e trabalhar no “barco”?

Trabalhar não é apenas cumprir horas, mas produzir. Deve haver um estímulo positivo dentro das empresas a quem produz mais, em que empresários e trabalhadores fazem parte da “empresa”, em que os trabalhadores contribuem com sua força laboral e os empresários com o “capital”, a fim de produzir eficientemente e com competitividade. Se existem trabalhadores improdutivos estes devem sair e ter apoio, a oportunidade em encontrar algo que se sintam bem e saibam trabalhar, é necessário criar a cultura do orgulho de trabalhar, de ser produtivo e para isso devem ser estimulados, desenvolver o sentido do amor próprio! Não estimular um contentamento de viver na pobreza à custa de subsídios. A maior ajuda não é “dar peixe, mas ensinar a pescar”!

Empresários ou gestores que governam mal as suas empresas, devem ser substituídos por pessoas mais capazes e nisso o Estado deve ter uma descriminação positiva para as empresas que têm um papel positivo à sociedade. Ao meu ver empresas que visam apenas lucros de poucos não devem ter qualquer apoio do Estado, é necessário saber se de facto aquela empresa que se estabeleça terá um papel positivo a médio-longo prazo à sociedade onde se estabelecem. E não apenas tirar do desemprego pessoas por meia dúzia de anos. Isso é desenvolvimento sustentado! É necessário criar critérios de selecção de empresas a apoio pela sociedade, que visam saber quais prejuízos e lucros que estas representam para a sociedade por um determinado tempo. Isenções de impostos, cedência de terreno, empréstimos, são prejuízos! Porque a sociedade vai perder dinheiro com aqueles que apenas visam enriquecer à custa desta?

A ideia do PSD em aumentar a rotatividade do pessoal nas empresas é uma visão retrógrada! A alta rotatividade de pessoal, pressupõe que o vinculo social dos trabalhadores à empresa é menor, existirá a necessidade de constante de gastar dinheiro em formação de pessoal e ocorrerá a diminuição da qualidade da produção pelo trabalhador, pois existirá sempre uma adaptação ao novo trabalho, à nova função. O “know-how”, não é só a formação académica/científica, mas também a experiência profissional e existe um papel nos mais velhos importante, que muitas vezes não é valorizada, que é a transmissão da sua experiência a quem entra na função a desempenhar.

O lucro de uma empresa não é só o dinheiro que esta dá, mas o ganho que esta representa para uma determinada sociedade, esse é o caminho do Socialismo Democrático do futuro. A única forma de juntar o dinamismo do Capitalismo à solidariedade do Socialismo. E sou socialista, porque acredito que é a forma de ter uma sociedade justa, democrática, solidária e com harmonia entre as classes.

É necessário criar pontes e aproximar todos os grupos sociais, para que juntos tenhamos um futuro melhor! E não criar muros, atritos na sociedade, para que cada vez mais, poucos vivam numa “orgia” de consumismo e opulência à custa de uma maioria cada vez mais pobre e ignorante, como parece ser a verdadeira visão de sociedade de futuro do PSD.

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