quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Que é ser Médico Veterinário em Portugal


Ser Médico Veterinário em Portugal é ser alguém que nada vale na sociedade actual. As únicas hipótese de poder ganhar dinheiro do seu trabalho dignamente é ter dinheiro, ou ter sorte em encontrar um colega justo (algo raríssimo) ou ter uma cunha, que pode ser por ser parente de alguém importante, ou ter uma relação intima com alguém importante.
No meu caso, pobre, mesmo tendo feito um Mestrado em Epidemiologia no Brasil, ciência em Veterinária praticamente inexistente, nada adiantou. Sem cunhas, com princípios firmes logo me renegou à exclusão profissional. Andei eu a trabalhar em trabalhos precários, mal pagos, humilhantes para poder ganhar dinheiro.
Passado tempo andei a bater de porta em porta e sempre encaminhado para apenas experiências curtas, sem perspectivas de futuro profissional, até que falei com um dos senhores mais importantes da Veterinária em Portugal, senhor com todos os títulos académicos possíveis, director de um dos principais laboratórios nacionais. Disse admirar minha pesquisa de Mestrado, que era algo inovador, mas não tinha como me dar trabalho. Até que um dia me contactou dizendo que existia uma boa oportunidade de trabalho, então me conduziu a uma associação de cooperativas, em que umas das experiências mais relevantes que tinha era trabalhar num call-center. Assim comecei eu a trabalhar como Veterinário Executor, pago a recibo verde, por cabeça de gado. Logo reparei que funcionários de cooperativas com 4ª classe, na prática desempenhavam um papel mais importante do que o meu, com vícios que roçam a corrupção e que apenas pretendiam usar o meu titulo profissional para dar uma imagem de seriedade na sua rotina de trabalho. Eu vivo com princípios e rigor profissional, começei em Paços de Ferreira, e estes princípios logo levaram um técnico desta cooperativa, que com 4ª classe tinha 2 Mercedes, a criar um péssimo ambiente de trabalho em relação à minha pessoa. Sendo as cooperativas agrícolas uma forma de dar emprego às oligarquias rurais, seus parentes, suas amantes, estes têm uma relação contratual vinculativa, ao contrário de mim que não tenho qualquer vinculo contratual. Aconteceu que obviamente mais facilmente seria eu a perder o trabalho do que este funcionário, pois Veterinários a precisar de trabalho, de uma migalha, existem muitos, que não se importariam até de trabalhar de graça, pois na sua maioria são sustentados pelos pais, só para guardar o "lugar" para si. Chamei à atenção de toda a estranheza de factos ocorridos à direcção da cooperativa (uma associação de cooperativas de defesa sanitária) onde trabalho e ignoraram. Porque na verdade esta empresa, nada mais é uma forma de fazer pessoas que em nada fazem para dignificar sua função, apenas querem ganhar dinheiro. Com Veterinários proeminentes dentro da classe que são os primeiros a humilhar espezinhar a profissão.
Passei a trabalhar noutra cooperativa, mas desta vez apenas interessado no trabalho que faço directamente, fechando os olhos ao que se passa à volta. Pois o importante é poder trabalhar em algo que tantos anos e dinheiro foram desperdiçados... Mesmo assim tive de resistir a ameaças, intimidações que procuravam fazer as vontades de interesses económicos, que passam ao lado das leis e regras... A Direcção Geral de Veterinária e o Ministério da Agricultura, sabem o que se passa, das provações do exercício da função, da precariedade, falta de condições e ignoram.
Na minha rotina de trabalho, no mesmo edifício onde trabalho, a maioria nem tem curso superior e poucos têm e todos são relacionados aos membros da direcção dessa cooperativa. Até a mulher de limpeza tem melhor condições laborais do que eu, com a vantagem que não perdeu tempo nem dinheiro para poder exercer a sua actividade e nem tem de pagar 150 euro a uma Ordem profissional... A minha de nada serve!
Tenho de pagar 150 euro à Ordem de Médicos Veterinários, que nada defende a profissão, aliás muitos que fazem parte desta são os mesmo que exploram os colegas que têm exactamente as mesmas habilitações académicas. Hoje em dia um licenciado ou mestrado, porque nos dias de hoje quem acaba o curso com o mesmo tempo do passado, mesmas disciplinas, com o processo de Bolonha, são Mestres (eu fiz uma licenciatura de 5 anos e mais 2 para fazer mestrado) nada têm, ou valem... Têm de andar a pedinchar, poder estagiar com um colega mais velho, trabalhar de graça, ser sustentado pelos pais, para depois então fazerem um estágio profissional. Porque os Médicos Veterinários patrões dão valor a todos os equipamentos, menos o capital humano, daqueles que têm igual curso, aliás é comum até sentirem desprezo... Antes de colegas, seria mais correcto chamar-se concorrente (a abater!). Assim após anos desperdiçados, há que entrar nos novos cursos de pós-graduação. Assim para se ser realmente um Médico Veterinário, há que ter dinheiro! Não é curso para pobres! Se a Democracia ampliou o acesso a este curso, a cultura das oligarquias da discriminação em Portugal, logo cria outro esquema... Ter de pagar fortunas para fazer cursos de pós-graduação. Eu que consegui fazer um Mestrado numa Universidade de prestigio no Brasil, não tenho chance de homologação, pois esta só é dada pelas Universidades portuguesas e para tal há que pagar! Elas querem é que se pague, e bem, para frequentar seus cursos de pós-graduação.
Pergunto... Se quem acaba o curso de Medicina Veterinária não é capaz, porque se gasta tanto dinheiro em professores, considerados granes doutores e engenheiros? Serão então serão incompetentes? Incapazes de transmitir conhecimento aos seus alunos? Então porque o Estado gasta tanto dinheiro nas Universidades? Estatísticas?...
Paga-se a uma Ordem para se poder trabalhar, mas a DGV, não reconhece oficialmente estes profissionais! Ela sim é que tem a autoridade de reconhecer quem é Veterinário Oficial... Então porque se paga a uma Ordem? Tanta falta de fazem os 150 euros...
Também tenho de contar uma curta experiência de ser burro de carga de uma colega a colher amostras de sangue... Digamos que numa manhã, ganhava 30 euros, podia ter de tirar sangue a mais de 100 bovinos, muito suei, muitos coices levei. Esta colega, chefe do tal laboratório do tal grande veterinário, nada fazia, excepto conversa, parecendo altamente inteligente (nada de mais) e anotava, admirava paisagem, dizia-se que ela era a "colectar amostras" e ainda tinha o descaramento de se gabar ganhar 1500 euro por mês... Passado uns meses tive o prémio. Uma protusão do disco vertebral, ao não ceder continuar a trabalhar, fui considerado, "não ter ritmo" do tal laboratório, assim para além da miséria de trabalho que tenho actualmente fiquei excluído de qualquer outra possibilidade de outro trabalho complementar. Minha coluna vertebral valeu 2000 euro!
Concluindo... Apesar de saber que afinal, depois de 24 anos de vida a estudar, não passo de um bem de consumo, como aqueles que estão na prateleira, em que o Estado recebe o IVA... Para quem trabalho, sou consumido e quando quiserem deitam fora... Investimento no capital humano? Para quê? O que importa é criar esquemas para enriquecer! Tenho 34 anos e nem mereço um dos programas dados pelo Estado para estágios profissionais, ou programa para diminuir a precariedade... Daqui a 1 ano, terei mais de 35 anos e estarei sem qualquer chance...Apetecia-me ir embora e depois? Voltaria para o desemprego, ficaria sem nada! Queixam-se os policias, os professores, os oficiais de justiça, funcionários públicos... E pessoas como eu? Nós nem queixar podemos, porque não nos fazem redução de salário, acabamos sim é na miséria! Somos nada, somos ninguém!
O que falta em Portugal é vergonha!

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